GESTÃO ORIENTADA PARA RESULTADOS
Universidades e faculdades são abertas diariamente com o intuito de formar indivíduos com um espírito inovador e desejo constante de reciclar conhecimentos para gerir de forma mais consciente e prática nas organizações das mais distintas em um mundo onde as coisas acontecem muito rápido e novas tendências surgem dia a dia.
Modelos e mais modelos, conceitos e mais conceitos, trabalhos e mais trabalhos são cobrados no decorrer de um curso de administração, porém, não raras às vezes, indivíduos são formados com uma alta subjetividade no que tange a postura enquanto gestor. Os estudantes com perfil para Recursos Humanos, Qualidade ou Marketing (ou seja lá o que for), não fogem a regra. Propostas bem conceituadas com um escopo definido e com um vislumbre de grandes resultados, porém sem uma viabilidade financeira tangível. Tudo é muito “lindo” e muito bem formado, mas sem resultados ou ao menos com parâmetros de aferição é difícil ir adiante.
Em meio a um mercado altamente tradicional, do ponto de vista de resultados, é preciso buscar retornos e apontar uma direção clara (seja o projeto qual for), pois para o empreendedor não faz sentido “gastar dinheiro” com projetos que não possuem uma clareza em sua proposta de retorno.
O pensamento enquanto gestor deve ser universal, um só, impar, singular, com um foco particular (financeiro). É difícil aceitar essa idéia, principalmente quando se trabalha com projetos que envolverão os ativos intangíveis de uma organização (pessoal, competências, processos, marcas, etc), mas, o que fazer? Como pensar sobre viabilidade? Como vender um projeto de ativos intangíveis para uma Empresa?
Um dos maiores staff da atualidade o ilustríssimo Assessor de Empresas Ram Charan, um indiano que trabalha como conselheiro de grande presidentes de companhias como: Jack Welch (chairman e ex-presidente da GE), Carlos Ghosn (Renault-Nissan), Jac Nasser (Ford), Dave Robino (vice-presidente da Gateway). Nascido na Índia Charan cresceu em meio aos pequenos empreendimentos de comércio de sua família e desde cedo sentiu em si o perfil de conselheiro partindo para Harvard para estudar e se tornar PHD em administração, sendo o primeiro Indiano a lecionar em Harvard e um dos consultores mais requisitados do mundo..
Com 65 anos de idade, sua experiência como consultor é vasta e certamente seus modelos são duradouros e sustentáveis. Para o autor, que foi desde administrador de pequenos comércios na Índia a conselheiros de grandes companhias nos Estados Unidos, não existe diferença entre um vendedor ambulante indiano e uma figura como Carlos Ghosn (presidente da Renault-Nissan), afirma que existe a chamada “linguagem universal de negócios” e exatamente o entendimento dessa linguagem que viabiliza todo e qualquer tipo de projeto.
Com muita ousadia e experiência acumulada o autor afirma que (2003, pág. 4), a linguagem dos vendedores de rua é a mesma linguagem de uma figura como Jack Welch (ex-presidente da GE prestes a se torna o maior executivo do século), ou Michael Dell, ou Jack Nasser. Quando a questão é tocar um negócio com sucesso os vendedores de rua e os presidentes de algumas das maiores e mais bem-sucedidas companhias do mundo falam e pensam de forma muito parecida. É claro que existe diferença entre conduzir uma grande empresa e uma pequena loja, mas os fundamentos ou a base dos negócios são os mesmos, ou seja a essência da gestão da é a mesma.
Sem mais delongas, a formula de sucesso que norteia essa chamada “linguagem universal de negócios”, é apresentadas nos seguintes pontos: geração de caixa, margem, retorno sobre ativos, crescimento e clientes. Para o autor, são esses pontos que norteiam qualquer empresário em qualquer lugar do mundo ou época , seja um vendedor de rua ou um chairman, será dentro desse panorama de anseios que as necessidade dos empresários devem ser satisfeitas. Portanto caso queira que seu projeto seja reconhecido e aceito pense como o presidente ou empresário de uma empresa (seja pequeno ou grande), e certamente obterá sucesso.
Geração de Caixa
A geração de caixa é a capacidade que uma empresa tem de gerar dinheiro. É a diferença entre todo o dinheiro que entra e que sai da empresa em dado período. O dinheiro entra em sua empresa a partir da venda de produtos ou serviços que serão pagos a vista ou no recebimento de crédito ofertado ao cliente. Sai através do pagamento de impostos, remunerações (salários + encargos +benefícios), custos de matéria prima,etc.
Um vendedor de rua conduz seu negócio com base em sua geração de caixa, não ouço pessoas reclamando disso ou dizendo “que absurdo”, pelo contrário o que ouço é: “ele é um trabalhador e precisar ganhar seu dinheiro vendendo suas muambas”. Sinto dizer, mas um presidente de empresa pensa da mesma forma que um “vendedor de muambas”, isso não é um novidade, afinal de contas ambos trabalham com a mesma finalidade a diferença é que uma empresa paga em média de 20% até 37% (chegando a 40% em empresas de serviço), de carga tributária, enquanto um ambulante paga tributos baixíssimos ou nenhum pela mercadoria vendida dentro de uma proposta autônoma extremamente conveniente.
O caixa é o oxigênio de uma organização é ele quem lhe dá a capacidade de se manter em um negócio, sendo assim mesmo que a margem e a velocidade dos ativos cresçam se o caixa não vai bem ou tiver sendo consumido de uma forma lesiva certamente a empresa não estará bem. Criando uma alegoria: caso os departamentos de uma empresas (finanças, compras, rh, marketing, qualidade), fossem os órgãos de um corpo humano, o caixa certamente seria o sangue, ou seja aquilo que faz o corpo se mover e distribui recursos para o corpo como um todo. Caso haja um ferimento em um membro qualquer e houver uma perda constante de sangue (hemorragia), o corpo certamente precisará ser reabastecido, caso contrário haverão danos gravíssimos, pois bem, assim é a geração de caixa.
Margem
Quando se fala em margem, na prática, é da margem de lucro que estão falando. Após abater os custos variáveis (diretamente ligados ao produto e que variam de acordo com a quantidade vendida), chega-se a lucro bruto. A divisão do lucro bruto pelo faturamento é a margem de lucro.
A pergunta é: “por que mensurar a margem de lucro é tão importante?”, a resposta é simples: “por que é a partir dessa mensuração que se pode chegar ao resultado almejado por uma melhor negociação de ativos (mercadorias ou matérias primas adquiridas). Na maioria dos casos os custos variáveis ou diretos serão lançados no produto, uma margem de lucro baixa é a luz vermelha em um prédio em chamas, portanto quanto maior os custos variáveis menor a margem de lucro e maior a necessidade de se planejar e estudar a viabilidade de um dado fornecedor ou até mesmo um produto ou serviço.
Quando a margem de lucro é insatisfatória perante um setor de atuação (segmento), pode ter certeza de que o resultado liquido, muito provavelmente, será “péssimo”, pois os custos fixos, despesas fixas e variáveis, normalmente representam uma fatia extremamente hercúlea dentro do desembolso de uma empresa, raro são os casos que não obedecem esse padrão.
Retorno sobre ativos
Normalmente tudo que a empresa desprende na forma de investimento se converte em ativo, em um hospital por exemplo os ativos tangíveis seriam: unidades de atendimento, sistemas de informações, estoques (almoxarifado e farmácia), e tudo aquilo que é utilizado para gerar caixa. O prédio e maquinário, que supostamente não serão vendidos, são os ativos fixos. É importante deixar claro que o ativo não é necessariamente tudo que é consubstanciado em algo “palpável” ou até mesmo na forma de algum material, por exemplo: em uma empresa de seguro o dinheiro depositado para cobrir os clientes desta ultima (segurados), pode ser considerado como ativos da empresa que serão acionados no momento da cobertura.
As organizações precisam girar seus ativos (que podem ser convertido em caixa no curto prazo), pois o sucesso do caixa depende da velocidade desses ativos. Empresas que imobilizam seu capital com ativos por um tempo considerável podem passar por sérios problemas em sua saúde. Alguns indicadores que podem auxiliá-lo na velocidade dos mesmo são:
A formula universal: Retorno sobre ativos = Margem x (Faturamento/Ativos)
Como exemplo, digamos que uma dada empresa tenha uma margem de lucro de 5%, 10 milhões em vendas e 2 milhões em ativos, sendo assim:
Retorno = 5 x (10.000.000/2.000.000) = 25% é o retorno sobre ativos.
O retorno sobre ativos desta empresa acima pode ser considerado como um bom retorno, pois grandes companhias como a Compac, Braskem, Perdigão possuem um retorno sobre ativos em torno de 20% a 30%, ou seja nada mal para essa empresa.
É preciso mensurar sempre os ativos, pois quando se fala em ativos é do caixa e da eficiência do corpo empresarial que se fala. As diretrizes tomadas dependem sempre da postura da empresa perante o seu giro, Charan (2004, pág. 45), aponta que “poucos são os gestores que buscam nos ativos a solução para uma melhor saúde de sua organização.” O erro começa na falta de uma visão coesa e direcionada para o ponto correto.
Crescimento
O crescimento deve ser, simplesmente, trivial para toda e qualquer organização, tendo em vista que toda a empresa possui seu ciclo de vida, quanto menor o crescimento e a inovação mais rápido será o seu declínio nesse ciclo de vida. Crescer se tornou uma obrigação, se omitir ou fugir do crescimento é abrir mão de maior força e barganha no mercado em que se atua.
Crescer é manter uma empresa competitiva para o futuro e estudar o cenário de forma a conquistar o que Drucker (2000, pág. 8), chamava de “Futuro Atual”. Promover crescimento para uma empresa pode ser: rever portfólio (criar novos produtos ou eliminar), fazer aquisições de concorrência, abrir novas unidades, entrar em um novo segmento, capacitar e qualificar seus colaboradores, etc. Crescer significa mobilizar a empresa para agir e pensar estrategicamente de preferência mudando velhos posicionamentos e adotando novos.
Não vou me ater a escrever mais seis ou sete parágrafos sobre um tema tão genérico e amplo, pois o que realmente importa, aqui, é que empresas mantenham a idéia de que crescer sempre será o caminho para ter mais força no segmento de atuação e um portfolio mais pujante, portanto cingido aos clientes e ao caixa, já que crescer significa buscar uma melhor ou maior consolidação junto ao mercado. Já imaginou um crescimento que não promete mais clientes ou simplesmente mais caixa?
O certo é que as empresas devem manter o foco no crescimento sustentável, ou seja aquele que te proporcionara margem e geração de caixa e que não cingirá uma organização do chamado passível exigível a longo prazo, ingentes organizações como a GM e a FORD estão pagando seu preço, hoje, por tal postura.
Clientes
Pode-se dizer que o cliente é o ponto de partida de tudo é para ele que a empresa existe. Para Prahalad (2000, pág. 38), tudo começa no que o próprio autor chama de co-criação, ou seja o cliente é o início e o fim de toda as coisas. Para a elaboração de um produto é preciso que cliente expresse se ele almeja ou não aquele produto específico.
Empresas que não olham para seus clientes pagam sério no longo prazo, pois serão os anseios e percepções do mesmo que ditarão o sucesso ou fracasso de um produto ou um de um segmento qualquer. Não é apenas um autor ou outro que aponta a necessidade de estudar o cliente profundamente para não deixar sombra de dúvidas: Juran (1990), em sua trilogia aponta que antes de girar qualquer processo é preciso estudar o consumidor, Kotler (2005), apresenta o cliente como o ponto crucial para a sobrevivência de qualquer negócio, Porter (2003), afirma que é para o cliente que a organização deve existir, entre outros diversos: Drucker, Golder, Collins, Welch, etc.
Pode-se dizer que todos os pontos que citados anteriormente - caixa, margem, velocidade de ativos e crescimento – começam e terminam nos cliente de uma empresa ou segmento, portanto para uma empresa gerar caixa, obter uma boa margem de lucro, girar seus ativos e crescer é preciso que o cliente simplesmente opte pelo produto ou serviços da companhia que observa e deseja se potencializar nestes pontos.
É difícil pensar em uma empresa que não esteja conexa aos pontos que Charan citou anteriormente. Tudo faz sentido para um gestor se houver pontos favoráveis para o mesmo, portanto pensar enquanto empresário é “crucial”, no momento de apresentar qualquer proposta, pois com essa “onda de qualidade” e agregação de valor a diretriz não é “pensar enquanto cliente?”, pois bem, permita que o seu superior seja tratado como cliente que possui necessidades e anseios que precisam ser satisfeitas, descubra quais são e pense enquanto empresário. Caso haja o atendimento dos pontos que pertencem à linguagem universal dos negócios os empresários, ou seus superiores, não hesitarão em aceitar sua proposta.
Ter uma gestão voltada para resultados é um desafio dos gestores modernos, algo que era imanente a postura de gestores no passado, mas que tem sido explicitada e cobrada com um grau, talvez, de exigência ainda maior nos dias atuais. Nas universidades se ouve falar de gestão para resultados, mas na prática a pressão e a orientação é muito mais agressiva do que a teoria tão bela e adornada por teóricos. Não é coincidência que umas das principais características dos grandes gestores é saberem perguntar a respeito dos principais pontos que viabilizam um projeto.
Aprovar um projeto por ser “bonitinho”, ou por ter um cunho sócio-ambiental proeminente é algo não tão tangível assim nos dias atuais (na iniciativa privada). Qualquer projeto precisa estar amplamente amparado pelos resultados que serão auferidos pós-implantação, portanto, todos os gestores precisam saber “fazer contas”, contas essas que apontem resultados que não apenas sustentarão a iniciativa, como também tratarão crescimento.
O altruísmo empresarial é algo que não se vê muito na prática. É certo que figuras como Bill Gates, Warren Buffett, entre outros, após a “aposentadoria parcial” - tendo em vista que continuam nos conselhos de suas organizações - passam a dedicar parte de sua fortuna e de seu tempo para questões sociais, mas até chegar a esse privilégio foram preciso anos e mais anos de resultados em suas companhias.
Por vezes já ouvi de amigos citações como: “a empresa não pode existir apenas para fazer dinheiro ela precisa contribuir socialmente”. O fato é que a empresa contribui socialmente com o simples fato de existir, pois a mesma emprega pessoas que em outra situação estariam lançadas a seu “próprio azar”. Mas a realidade é que ninguém abre uma empresa para fazer trabalhos sociais ou coisa parecida, ONGs podem ser abertas para tanto, secretarias, movimentos sociais, etc, mas é inegável que as empresas foram criada para gerarem lucro e é para isso que elas existem.
Todo é qualquer benefício social deve estar amparado por estudos de viabilidade que levem a empresa a crescer. Por exemplo, caso uma empresa qualquer queira abrir uma casa de recuperação para viciados em drogas, contribuindo assim socialmente, a pergunta é “nosso cliente se encartará com isso?” “Ele será fiel a nós por essa razão?” Se a resposta for sim, o caminho esta aberto para negociação. Não é por acaso que empresas e mais empresas estão fazendo campanhas para conservar a Amazônia esse é um marketing perfeito em um momento de crise ambiental, como o que vivemos. É difícil alguém não se comover quando o assunto é desmatamento na Amazônia floresta conhecida mundialmente por “pulmão do mundo”.
Antes de pensar em projeto pense na linguagem universal dos negócios. Caso essa linguagem esteja direta ou indiretamente ligada à seu projeto, a iniciativa ou idéia, você tem grandes chances de ganhar essa batalha. Mas, não vá na “onda” do que é botinho, pois nem sempre é viável e caso não seja viável você provavelmente ouvirá um alto e audível “sem condições meu filho(a)”.
BIBLIOGRAFIA
CHARAN, Ram. Afinal o que realmente funciona?: O que o presidente da sua empresa quer que você saiba para fazer a diferença. Rio de Janeiro, Negócio Editora & Elsevier. 2005
COLLINS, Jim; Processo Decisório: Convertendo metas em resultados. Harvard Business Review. P. 27-58; Campus e Elsevier; Rio de Janeiro; 2006
DRUCKER, Peter F.; Coleção Harvard de administração: O novo papel da administração Pág. 5-28; Nova Cultura; São Paulo; 1986
JURAN, J. M.; Na liderança pela qualidade: Um guia para executivos. 1° ed., São Paulo, Pioneira, 1990.
PORTER, Michael E. TEISBERG, Elizabeth Olmsted. Repensando a Saúde: Estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos. 1° ed. Porto Alegre, Bookman, 2007.